Irrigação e Fertirrigação - Parte I

CENTER-entrada principal (foto do autor)
          Em 1999 fui estudar na Espanha. Consegui, com o Prof°. Joaquim Amaro, da ESAM, uma bolsa de pós-graduação, na ECCA (Escuela Central de Capacitación Agrária), do Centro Nacional de Tecnología de Regadíos (CENTER), Torrejón de Ardóz, Madri. Já trabalhava na Del monte àquela época, mas pedi demissão, e com a ajuda de muitas pessoas, parti para aprefeiçoar-me em Irrigação e Drenagem.
          Concluído o curso, e já de volta ao Brasil e novamente à Del Monte, que me chamou de volta aos seus quadros, começaram a surgir alguns convites para proferir palestras sobre os temas que havia estudado. Assim, terminei por elaborar um material didático sobre técnicas de Irrigação e Fertirrigação, que transcreverei aqui, ao longo de várias postagens.





1.    INTRODUÇÃO
IRRIGAÇÃO é uma prática cultural de climas áridos e semi-áridos, que tem sido desenvolvida por todos os povos que necessitam transformar a natureza para sobreviver em condições de escassez de chuvas, ou quando estas se distribuem de forma muito irregular, e ainda quando se pratica agricultura altamente tecnificada, como é o caso de projetos agrícolas cujas produções destinam-se à exportação, principalmente em se tratando de frutas in-natura.

2.    O ASPECTO SOCIAL DAS ZONAS IRRIGADAS
Tradicionalmente, se considera a irrigação como um elemento dinamizador das zonas rurais, tanto como perspectiva econômica e de desenvolvimento de novas atividades ligadas à comercialização e transformação da produção agrícola e aos serviços, como à ótica da geração de emprego e redistribuição da propriedade.

3.    IRRIGAÇÃO LOCALIZADA
Dentro das atuações possíveis e através do fomento da modernização das zonas irrigadas, temos o exemplo claro da irrigação localizada no que seria economia e melhora da irrigação. Dentro deste sistema, temos as seguintes vantagens e desvantagens:

Vantagens:

1.      Economia importante de água, mão-de-obra, produtos fitossanitários e abonos;
2.      Possibilidade de irrigar qualquer tipo de terreno, por mais acidentados ou estruturalmente pobres que sejam;
3.      Uso de água de “pior” qualidade;
4.      Aumento da produção, antecipação de colheitas e melhor qualidade dos produtos;
5.      Permite simultaneidade com ouras atividades agrícolas, ao estar em solo seco;
6.      Não altera a estrutura do solo.

Desvantagens:

1.      Instalação cara;
2.      Se for mal projetada ou mal instalada, pode levar a perdas de colheitas, por falta de água e nutrientes, podendo chegar – em alguns casos – a ter menor eficiência que os sistemas tradicionais de irrigação;
3.      Se não existe possibilidade de lixiviação do terreno, o uso sistemático de águas de má qualidade pode acabar contaminando as áreas de cultivo;
4.      Obstrução dos gotejadores pelas partículas trazidas (arrastadas) pela água;
5.      É necessária uma maior qualificação por parte do usuário, do que em qualquer outro sistema.
Por último, deve-se comentar que existem dois tipos de sistemas de irrigação localizada: subterrâneo, que é pouco utilizado, pelos problemas que apresenta nas raízes e práticas agrícolas; e superficial, que, na prática,  é o sistema amplamente difundido e utilizado.

4.    A ÁGUA DE IRRIGAÇÃO
4.1.   INTRODUÇÃO
Quando se decide transformar uma área fazendo-se uso de irrigação, a água se constitui no principal fator limitante. Neste sentido, existem dois aspectos que o irrigante nunca deverá esquecer: a vazão disponível e a qualidade de água a ser utilizada.
A vazão indicará o volume de água disponível na unidade de tempo (l/s, m3/h, etc). Em função das necessidades de irrigação do cultivo, e do sistema utilizado, a vazão determinará qual a superfície máxima a irrigar.
A qualidade da água de irrigação compreende uma série de aspectos ou características físicas e químicas que condicionam o que esta água pode irrigar.
Ainda que a análise química da água de irrigação seja essencial para avaliar sua qualidade agronômica, há que se ter em mente que a aptidão final da água de irrigação disponível virá condicionada também por outros fatores, tais como: o sistema de irrigação empregado, o cultivo à ser irrigado, tipo de solo e manejo da irrigação.

4.2 PROCEDÊNCIA DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO
Tradicionalmente, as águas destinadas à irrigação, têm sido as águas superficiais (açudes, rios, barragens, etc). Estas apresentam o inconveniente de tornarem-se escassas, principalmente nos meses do ano em que há maiores demandas de irrigação. Daí, já se torna usual a construção de cisternas para uso próprio.
As águas superficiais podem ter uma temperatura bastante similar à temperatura da atmosfera. São ricas em gases (oxigênio) e têm substâncias minerais e orgânicas em solução e suspensão, sendo cada vez mais elevado o risco de contaminação em conseqüência da atividade humana.
A insuficiência das águas superficiais tem obrigado aos agricultores a procurar e utilizar-se de águas armazenadas em horizontes profundos do solo (aqüíferos).
Estas águas subterrâneas se caracterizam por ter uma temperatura muito uniforme durante todo o ano. São pobres em gases dissolvidos, assim como em substâncias minerais e orgânicas em solução e suspensão, apresentando menores riscos de contaminação que as águas superficiais.
Em águas captadas de aqüíferos subterrâneos que percorrem subsolos calcários, se observa um maior conteúdo de cálcio (principalmente no período frio, em países com a estação de inverno bem definida). Por outro lado, quando esta água atravessa extratos ricos em sais solúveis, pode dar-se um aumento da concentração total de sais (principalmente no verão).
No caso de poços localizados próximos a um rio, pode-se observar que na medida em que se intensificam as extrações de água deste aporte, a composição da água se aproxima cada vez mais à do rio. Da mesma forma, em poços próximos ao litoral, onde os aqüíferos sobreexplorados são invadidos por água marinha.

4.3 AMOSTRAS E ANÁLISES DE ÁGUAS

Para avaliar a aptidão da água de irrigação, é importante que se proceda uma amostra da mesma e a encaminhe a um laboratório confiável, para análise. Normalmente, a responsabilidade da coleta da amostra recai sobre o agricultor. Dessa forma, talvez seja conveniente não esquecer dos seguintes conselhos:

1. O recipiente deverá ser de vidro ou plástico. Deve estar bem limpo. No caso de uma análise simples, 1 ou 1,5 litros de água é suficiente;
2. No caso de águas correntes, as amostras devem ser retiradas de vários pontos, à profundidade média, e nunca em lugares onde a correnteza não seja normal. Estas sub-amostras deverão ser misturadas em um recipiente independente (e maior), para que se obtenha a amostra final que será enviada ao laboratório;
3. Em poços, é conveniente ligar a bomba e esperar vários minutos antes da retirada da amostra;
4. Assegurar-se que o recipiente está bem fechado e tomar as precauções oportunas para que seja feita uma boa embalagem, principalmente se o recipiente que contém a amostra for de vidro;
5. Preencher a etiqueta de identificação, que deverá conter os seguintes itens: Procedência (nome da propriedade rural, município, estado, etc.), Responsável (proprietário ou pessoa que procedeu a amostragem), Utilização da água (tipo de cultura), Tipo de análise requerida, etc.
6. A amostra deve ser enviada ao laboratório o mais rápido possível
No caso de uma análise comum de água para uso agrícola, os parâmetros a serem determinados pelo laboratório, podem ser os seguintes:
·         PH
·         Condutividade Elétrica (CE)
·         Carbonatos
·         Bicarbonatos
·         Cloro
·         Sulfatos
·         Nitratos
·         Cálcio
·         Magnésio
·         Potássio
·         Sódio
·         Amônia
·         Boro
·         Ferro
  
4.4 QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO

Quando da avaliação da qualidade da água de irrigação, pode-se seguir 4 tipos de critérios básicos:
 
1.      Salinidade (conteúdo total de sais)
2.      Sodicidade (perigo do sódio)
3.      Toxicidade
4.      Outros Critérios
4.4.1 SALINIDADE (conteúdo total de sais)
A água de irrigação sempre leva sais dissolvidos. Se o conteúdo destes sais é elevado, as plantas encontrarão mais dificuldade para absolver água do solo. Este simples fato pode gerar uma diminuição na colheita, tanto maior quanto mais sensível for o cultivo em questão.
Para avaliar de uma forma rápida a quantidade de sais na água, procura-se determinar sua Condutividade Elétrica (CEa), que pode vir expressa em milimhos/cm (mmhos/cm) ou em micromhos/cm (mmhos/cm).
A equivalência entre as unidades, é a seguinte:
  
1 mmhos/cm = 1.000 mmhos/cm 
A determinação da CEa é feita através de um instrumento chamado “condutivímetro”. Seu resultado sempre se refere à temperatura de 25 °C, e o seu valor será tanto maior, quanto mais sais estejam contidos na água.
Uma vez conhecido o valor da CEa, o Conteúdo Total De Sais (C.T.S.) da amostra pode ser estimado da seguinte forma:
C.T.S. (g/l) = 0,64 x CEa (mmhos/cm)
No mercado existem condutivímetros de bolso que, pelo seu baixo custo, estão ao alcance do agricultor e que, apesar de não ser aparelhos muito precisos, se constituem em um instrumento eficaz para “vigiar” a salinidade da água que se está utilizando na irrigação.
Se se deseja conhecer com precisão a salinidade real da água, se fará necessário obter o conteúdo de cada um dos diferentes sais (cátions e ânions), através da determinação laboratorial. Neste caso, a salinidade será determinada pela soma das quantidades dissolvidas dos diferentes sais presentes.
Para qualquer que seja o sal, a sua concentração (quantidade de sal dissolvido em um volume determinado de água) pode vir expressa em miliequivalentes/litro (meq/l), e como regra, a soma dos cátions em meq/l, deve ser muito próxima a dos ânions.
Para se determinar o resultado em miligrama/litro (mg/l), basta somente multiplicar o valor em miliequivalente/litro (meq/l) por um fator que está na tabela que virá à seguir, e que, como será notório se observar, depende do tipo de sal.

Sal (ânion/cátion)
Fator
Carbonatos CO3--
30,00
Bicarbonatos CO3H-
61,00
Cloro Cl-
35,46
Sulfatos SO4--
48,03
Nitratos NO3-
62,00
Cálcio Ca++
20,04
Magnésio Mg++
12,16
Sódio Na+
23,00
Potássio K+
39,10
Amônia NH4+
18,00
Boro
10,80
Fósforo
31,00
De posse do valor da CEa, pode-se estabelecer a seguinte classificação proposta em 1972 pelo Comitê de Consultores da Universidade da Califórnia:
Classificação das águas de irrigação, baseado na CEa a 25 °C
Índice de Salinidade
CEa (mmhos/cm)
Risco de salinidade
1
< 0,75
Baixo
2
0,75  -  1,5
Médio
3
1,5  -  3,0
Alto
4
> 3,0
Muito Alto

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