Mercado de Trabalho: o que vale a experiência adquirida?

          Há algum tempo que estou buscando recolocação no mercado. Tenho buscado todos os meios disponíveis para isso, e principalmente os recursos que a internet proporciona: LinkedIn, Catho, Manager, Agrobase, Vagas, dentre outros, só para citar alguns dos sites que mantenho-me inscrito, com o intuito de conseguir voltar a ter uma atividade laboral. Algumas vezes, fui contatado por recrutadores de diversas regiões do Brasil, mas, efetivamente, somente fui chamado para entrevistas em 3 ocasiões. Numa delas, aconteceu um episódio que gostaria de compartilhar com todos, mas principalmente com os recrutadores (se é que algúm chegará a ler este texto), porque, devo confessar, foi um dos piores momentos por que passei.
          Fui selecionado para concorrer ao cargo de Gerente de Logística de uma grande empresa de renome mundial. Naquela oportunidade, haviam cinco vagas para o cargo. Fizeram o contato via telefone, e uma entrevista prévia, embasada, claro, nos dados fornecidos pelo currículo, o qual havia postado em um desses sites de cadastramento de CV's. Após a enxurrada de perguntas, a recrutadora derramou-se em elogios. Falava-me que há muito buscava alguém que houvesse tido experiências com os diversos modais de transportes, experiências em atividades logísticas, exportações/importações, negociações de compra/venda de serviços. Enfim, finalizou as palavras me convocando para comparecer "in-loco" para uma nova entrevista, onde eu também participaria de uma dinâmica de grupo, o que era perfeitamente esperado. Mas, antes de encerrar a conversa, me certifiquei do meu perfil estar realmente dentro do esperado pela empresa. Minha preocupação por tal, se dava porque, apesar de estar inteiramente disposto a comparecer à convocatória da entrevista presencial, precisaria me organizar para viajar até o local, o que envolveria despesas com passagens aéreas e hospedagens, já que estávamos em regiões diferentes do Brasil. Ela foi enfática, dizendo-me: "você é, talvez, o candidado com mais chances de assumir uma das vagas!". 
          Com essa resposta, não havia mais o que pensar. Marcados data e hora de apresentar-me à entrevista, adquiri o bilhete aéreo, reservei o hotel, e lá fui eu ao encontro de minha recrutadora, com o otimismo de sempre, e com as esperanças de em breve estar recolocado e trabalhando, já que havia sido tão elogiado. Pensei na nova vida, na mudança de cidade e região, etc. As expectativas normais de quem recebeu palavras elogiosas, porém com a consciência de que ainda haveriam as demais etapas a serem vencidas, até à possível efetivação.
          Dia da entrevista, chegei ao local com antecedência ao horário estipulado, me apresentei, e fiquei aguardando o chamado, o que não tardou acontecer. E já devidamente acomodado na sala onde aconteceria a entrevista, finalmente tive o primeiro (e único) contato pessoal com a minha recrutadora, uma senhorita, que, apesar de sua jovialidade, era a diretora de recursos humanos do grupo. Talvez a moça tivesse não mais que 25 anos, mas certamente não havia chegado ainda aos 30. Nos apresentamos, e começaram as indagações. Tudo conforme o esperado, e em pouco menos de uma hora, chegávamos ao fim daquele colóquio. Novamente minha entrevistadora terceu elogios sobre meu passado laboral, enfatizando minhas experiências prévias, reafirmando que a empresa necessitava de alguém com meu perfil... Dispensável comentar aqui minha satisfação aos elogios. 
          No entanto, já nos prenúncios dos cumprimentos finais, para que eu pudesse seguir à próxima etapa da seleção que aconteceria no dia seguinte, ela me interpelou mais uma vez, peguntando-me se eu dominava, especificamente, um certo sistema TMS, o qual era utilizado pela empresa. De pronto, respondi que não - até porque não o conhecia mesmo -, para em seguida comentar, após ser perguntado, que já havia trabalhado com sistemas dos mais variados tipos nos últimos 12 anos, e que inclusive havia participado do processo de implementação de dois sistemas TMS nas empresas em que trabalhado anteriormente. 
          Não haveria nenhum empecilho, de minha parte, em aprefeiçoar-me naquele sistema específico. Afinal, nunca tive nenhum problema com informática. Ao contrário, sou um entusiasta da tecnologia de informações. Tenho buscado conhecer o máximo que posso do que a informática pode nos proporcionar. Sistemas são ferramentas indispensáveis, e qualquer pessoa pode ser capaz de manuseá-los, desde que se interesse e tenha o treinamento adequado para tal. 
          Nesse momento, notei que o clima, antes tão positivo e amistoso, havia mudado por completo. As expressões da recrutadora denunciavam desapontamento, e me veio a frase que não esperava escutar: "sua experiência laboral é incontestável, mas não poderei levar-lhe adiante na seleção, porque, um dos pré-requisitos para o cargo, é o domínio do sistema "X" (sinceramente, não lembro o nome do tal sistema informático).
          Naquele momento, fui eliminado do processo seletivo. Minha "bagagem" laboral, acabara de ser descartada, em detrimento de eu não dominar aquele sistema utilizado pela empresa. 
        Eu, que havia tido participação conclusiva na implementação de dois sistemas informáticos, em duas empresas multinacionais em que havia trabalhado anteriormente, que viajei ao exterior para ser treinado em um sistema chamado "Tradeware", porque na empresa em que trabalhava, ninguém o dominava, e que ao final do treinamento, e de volta ao Brasil, não só treinei a minha equipe e os demais colegas, que havia tido a preocupação de escrever um manual do Tradeware para que pudessem consultá-lo quando necessário, estava sendo descartado por não conhecer um sistema informático específico, dentre milhares que existem no mercado, e que são utilizados pelas empresas por suas próprias escolhas. Não estávamos ali discutindo o domínio do Excell ou de alguma ferramenta específica para engenheiros desenhistas, como é o AutoCad, por exemplo...
        Bom, o que haveria de fazer? Nada mais. 
     Com tranquilidade, agradeci a minha recrutadora pela oportunidade, pedindo-a que me  confirmasse que, para mim, a seleção havia chegado ao fim. Prontamente recebi o veredito final: sem ser expert no tal sistema, eu estava fora do processo seletivo, e para mim, a seleção acabava naquele ponto. 
       Em nossas despedidas, a recrutadora desculpou-se, indagando se eu gostaria de fazer alguma consideração final. Lhe disse que sim, desde que ela me permitisse ser informal nos comentários, o que ela concordou prontamente. Simpática a moça! Comentei inicialmente que os profissionais, quando saem das escolas, travam uma grande batalha para conseguirem entrar no mercado de trabalho, justamente por não ter a experiência tão requerida pelas empresas. Mas uma vez conseguida a primeira colocação, as pessoas vão se aperfeiçoando nas suas labores. Adaptar-se ao que as empresas exigem, faz parte das experiências, e isso vem com o tempo, que deve ser o menor possível para o desempenho das atividades. Isso é salutar e faz parte do jogo, e cada um deve estar capacitado a correr contra o tempo. No entanto, em minha ótica, exigir de alguém que está sendo recrutado para um determinado cargo de gerenciamento de processos, o conhecimento de um determinado sistema informático, não seria o item a eliminar o candidato. Sistemas informáticos são construídos para usuários, e cabe a quem vai se utilizar deles, aprendê-los. Quem tem que conhecer sistemas, serem experts nestes, são as empresas que os elaboram. Elas sim, junto ao seu pessoal técnico, devem ser capazes de conhecer a fundo os sistemas que constroem, para capacitar aos que os utilizam. Dito isso, notei que havia tocado num ponto que talvez a  recrutadora não houvesse despertado até então. A sensação que tive, é que, de certa forma a havia constrangido, mesmo sem nenhuma intenção de fazê-lo, mas pela sinceridade e  objetividade do que havia comentado. Estirei-lhe a mão, despedi-me novamente, e fui-me. Frustrado, claro, mas rindo do acontecido. Sem culpas nem vergonhas, mas muito frustrado pelo que acabara de vivenciar.
          Nunca esqueci o quão jovial era a minha recrutadora, e por esse motivo, acredito que ela ainda não tinha a experiência e discernimento suficientes, para questionar/discutir junto aos seus superiores, que aquele não deveria ser o parâmetro para eliminação de candidatos ao cargo. Não se elimina uma pessoa que concorre a um cargo gerencial, por não saber manipular um sistema informático que ela nunca teve acesso ou desconhece. Elimina-se sim, um candidato a qualquer cargo que seja, pela incapacidade que este candidato tenha de não poder operar qualquer sistema informático por não saber o mínimo de informática. Mas estas são qualificações genéricas. É impossível que alguém, nos dias atuais, não tenha o mínimo de familiaridade com a informática. 
          Ainda continuo firme no meu conceito de que sistemas são feitos para usuários, e que estes usuários devem interagir com os mesmos, quando devidamente familiarizados e treinados para tal.  Ou até mesmo, podem existir pessoas que tornam-se "experts", sendo auto-didatas, mas que precisam ter o primeiro contato com os tais sistema informáticos.
          Aos recrutadores, fica minha pergunta: O que vale a experiência adquirida?

          Sigo adiante, buscando minha recolocação.

          Manoel Pinheiro

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