Irrigação e Fertirrigação - Parte IV
5. NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS
A água é imprescindível para a vida dos vegetais, pois é o principal constituinte da maior parte de sua matéria (80 – 90%), e é utilizada como solvente dos elementos químicos e transporte de nutrientes. Além da nutrição, a água e um elemento essencial em todas as funções vitais dos vegetais, pois é fundamental no processo de regulação térmica (TRANSPIRAÇÃO), no movimento da seiva elaborada, etc.
As necessidades de água das plantas dependem fundamentalmente de dois fatores: a própria planta (e, por conseguinte, de sua fisiologia) e do meio onde esta está sendo cultivada.
5.1. NECESSIDADE DE ÁGUA DE UM CULTIVO
A necessidade de água requerida por um cultivo qualquer é dada pela soma das necessidades inerentes à própria planta e as necessidades do meio onde esta está sendo cultivada (SOLO), com suas perdas e o seu poder de retenção.
Se o solo tem um bom nível de umidade (pouca retenção ou retenção nula), e se se dispõe de um sistema de irrigação que evite as perdas por percolação, a preocupação será em disponibilizar às plantas a água que estas transpirem (TRANSPIRAÇÃO), e a que se evapore (EVAPORAÇÃO). A água de constituição da planta é insignificante no consumo, já que para formar 1 Kg de matéria vegetal (água + matéria seca), a planta deve transpirar centenas de litros de água. Portanto, a quantidade de água necessária, deverá ser fixada nos seguintes valores:
A EVAPOTRANSPIRAÇÃO (ET) de uma cultura (ETc) pode e deve ser traduzida como a necessidade hídrica dessa cultura.
ETo: é o valor da evapotranspiração de referência, medido à superfície de uma gramínea. Este dado pode ser obtido por diversos métodos, e é expresso em milímetros (mm) de água. Está diretamente relacionado com os dados de clima (temperatura, umidade, vento, etc.).
Kc: é denominado “coeficiente de cultivo”, e depende da cultura e de sua fase de desenvolvimento. Existem várias tabelas que informam o Kc para diferentes culturas agrícolas (o valor de Kc pode variar de uma zona climática a outra).
5.2. CÁLCULOS DA ETo e Kc
Em zonas onde há um avançado desenvolvimento em matéria de irrigação, a ETo é diariamente comunicada ás comunidades irrigantes por meios de ampla difusão (rádio, imprensa, etc.), pois estas zonas dispõem de séries históricas de dados climatológicos, de onde se pode obter os valores da ETo facilmente. Nas regiões de pouco uso da irrigação, a saída é montar um tanque classe “A” para medir a evaporação diária (em mm). Pelo baixo custo e facilidade de manejo, este método está sendo amplamente difundido e utilizado para o cálculo requerido.
Ø Kp = Coeficiente do Tanque. Depende das condições que margeiam a estação.
Ø Ep = Evaporação do Tanque
Exemplo de Cálculo:
Mediante um evaporômetro tipo Tanque Classe “A”, determinar a ETo durante o mês de junho, com os seguintes dados:
- O tanque classe A tem uma borda de 10 m de grama
- Umidade relativa média: 50%
- Vento moderado
- No quadro abaixo, estão indicadas as leituras diárias do nível da água do recipiente (tanque), a quantidade de chuva diária e as quantidades de água adicionadas ou subtraídas ao recipiente.
Solução:
Aplicando-se a fórmula ETo = Ep x Kp
Do quadro n° 1, o valor de Kp = 0,7
Substituindo os valores na fórmula, tem-se:
Kc = COEFICIENTE DE CULTIVO. O coeficiente de cultivo depende fundamentalmente da fase de desenvolvimento da cultura, e de alguns fatores tais como umidade ou o vento. (A cultura pode ter as suas taxas de evaporação modificadas para adaptar-se às condições climatológicas).
5.3. FASES DA CULTURA
Ø Inicial: desde a semeadura até 10% de solo coberto.
Ø Desenvolvimento: desde o final da fase INICIAL até a cobertura máxima do solo.
Ø Meia estação: final da fase de DESENVOLVIMENTO até a maturação.
Ø Estágio Final: desde a maturação até a colheita.
OBS.: as fases de cada cultivo são bastante variadas, e depende da variedade cultivada e do clima local. Uma boa opção de parâmetro é buscar na literatura, dados de registros de valores de Kc, assim como comparando, “in-loco”, os diversos ciclos da cultura que se está explorando, com a literatura disponível.
Ø Clima
- Pouca variabilidade em médias amplas
- Calcular as instalações para as previsões máximas
- Estudar microclimas quando se dispõe de dados cuja estação climatológica está afastada
Ø Mudanças em novas áreas irrigadas
- As séries históricas de dados podem variar.
Ø Lençol freático
- O nível freático alto reduz os índice da Etc obtido pelos procedimentos utilizados para tal.
Ø Outros fatores
- Os quebra-ventos podem reduzir a Etc
- As práticas laborais podem reduzir ligeiramente a Etc.
5.5. CÁLCULO DAS NECESSIDADES DE IRRIGAÇÃO
NB = Necessidades Brutas (quantidade de água que se deve disponibilizar, através da irrigação)
NN = Etc, de acordo com o cálculo efetuado anteriormente, retirando-se a água de chuva.
No caso de árvores frutíferas, a equação é modificada, levando-se em consideração um novo parâmetro (F), que está relacionado à zona sombreada.
Sendo P% a porcentagem de solo sombreado pela copa, em função da totalidade de solo correspondente a cada árvore (não é utilizado para espaldadeiras).
Portanto, para fruteiras a fórmula deverá ser:
Ea = eficiência de aplicação (água efetivamente é aproveitada, do total aplicado)
Irrigação por aspersão = 0,6
Irrigação por gotejamento = 0,9
LR = Fração de lixiviação (ou lavagem). É a quantidade de água necessária para produzir lixiviação, a fim de regular a salinidade na zona radicular da planta.
CEa = Condutividade elétrica da água de irrigação (mmhos/cm).
Max Cee = Condutividade elétrica do extrato de saturação do solo, para um determinado cultivo (ver quadro 5)
QUADRO 5 – DIMINUIÇÃO DE RENDIMENTO (%) QUE DEVERÁ SER ESPERADO DEVIDO À SALINIDADE NA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO (mmhos/cm), COM IRRIGAÇÃO SUPERFICIAL (FAO 29).
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